ANJOS E DEMÓNIOS

Andam no céu

A lutar

Enquanto eu

Do meu casulo do nada

Os estou a observar

Sorrio aos anjos

Abro-lhes a alma

E dou-lhes

Toda a minha ternura

Em sentimentos belos

Onde se mistura

Um calor ardente

Com um sentir etéreo que perdura

Perdura…

Anjos e demónios

Na eterna luta entre o bem e o mal

Ou será?

Entre um gesto de carinho

E a recusa

De qualquer tipo de afecto

O meu mais caro

E mais guardado objecto

Anjos e demónios

Os primeiros

Levam-me às estrelas que amo

Os segundos

Transportam-me por estranhos caminhos

Onde por vezes acompanhado

Me sinto sozinho

Anjos e demónios

Nessa dialéctica confusão

Entre o que está certo

E o que está errado

Razão ou falta dela

Que escapa à nossa compreensão

Anjos e demónios

Tão potentes

Tão omnipresentes

Tão gigantes

Tão anões

Um milhão de vozes

Uma miríade de razões

Embora a lógica

Não seja de quem a faz

É

De quem a decompõe

Nas palavras

Doutas ou leigas

De quem os anda a estudar

Concilio de Trento

Que de nada serve

De nada irá resultar

Talvez um pensamento único

Para nos fazer descansar

Das nossas pequenas inquietações

Tempestade em copo de água

De enormes proporções

Ou feitiço supremo

Que transforma o ouro em chumbo

Ou o chumbo em penas de anjo

Voando esse desejo de querer ser

Para qualquer outro lugar

Onde espero

Que

Anjos e demónios

Não me possam encontrar…