Que sou eu?

Que sou eu?

Sou... mas não sou aquilo que penso,

Nem adivinho o que no futuro possa ser,

Sei que sou pó no espaço a que pertenço,

E que desconheço os caminhos a percorrer.

Sou um composto complexo e finito,

Uma ínfima parcela do Universo,

Serei um átomo a vaguear no infinito,

Ou apenas pó pela galáxia disperso.

Vim do pó e a ele um dia irei voltar,

Crente naquilo que me irá acontecer:

Que meu corpo se virá a desintegrar,

E ao espírito Deus virá a recolher.

Sobre meu corpo a morte terá poder,

E depois de enfraquecido o vencerá

Mas sei que minha alma irá sobreviver,

E como anunciou Cristo triunfará.

Sou hoje um incógnito habitante,

Frágil, mortal e sem valor,

Amanhã, poderei ser fertilizante,

E renascer na pétala de uma flor.

Sou matéria, efémera e mortal,

Que voltará ao lugar de onde veio,

Mas também alma de origem divinal,

Que tem somente em Deus o seu anseio.

Qual árvore em idade outonal,

De folhas soltas já a amarelecer,

Sinto nos cabelos brancos o sinal,

De que o Outono me está a acometer.

Seis décadas na terra eu já vivi,

Buscando uma felicidade inexistente,

Iludido na alegria de viver aqui,

Uma vida que é apenas aparente.

Apesar de ser pó e nada valer,

Resta-me afinal a consolação,

De que por mim á Terra quis descer,

Cristo, para que eu fosse seu irmão.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 07/10/2006
Código do texto: T258518