ACORDE DE VEZ!!!!
Sempre dormiu.
Acordou no antro do sonho
Espantado do encanto
Do espantalho que o acalentava,
De braços abertos e tristes
Jorrou seu próprio espanto por dormir
Delirava de dedo em riste
Que uma vigília lhe consagra,
Um sol anárquico o ilumina
Mas o destino errático que assina
Elimina-o da fala livre, retarda...
E o descontrole o assiste
E a utopia escrava o assalta
Pois ele sempre dormiu...
E as vozes ensonadas que ouve
São da bronca tópica que lhe azucrina
A mesma que o faz iludir-se
De olhos abertos e cegos
Pelos pregos que bate
A arregaçar-lhe, à força,
As pálpebras do alter-ego
Pergunta-se: Por que insisto?
Porque nasci ativo, altivo
Mas deliro prostrado na cama dos dias
Como um morto-vivo?
Ilude-se de que algo nele muda
Deitado em lençóis limpos e frescos,
Em quarto pintados de arabescos...
Pois sua mudança é delírio seco
Entornado dos inúteis recomeços
Mas ele, sempre, dormiu...
Que acorde, de vez! Que assuma
O que é, de pé, diante à realidade
Que assista a vida que lá fora existe
Além de um pássaro grave
Que insiste em pairar cortês
No seu espaçoso mundo burguês...
O passarinho, coitado, refém,
Mais parece uma mosca
De padaria a circundar
Um pão fresco e doce...
Mas ele sempre dormiu...
Dorme farinha, morre rosca
Neste sonho adocicado
Do inseto que lhe assiste