VOO CEGO

(Lena Ferreira)

Lanço-me às paixões insandecentes

num voo cego, inseguro e incerto

Desimportando-me com as consequências

absorvo cada centímetro do prazer previsto

Invisto despretenciosamente em atos

atitudes de entregas absurdas, não mudas

escancarando o verbo em gritos de ouvir ao longe

numa sensação de euforia plena que incha-me o peito

Voo e voo alto! Não assusta-me o precipício ao largo

Toco-o de leve em carícias mornas; desafio atemporal

Minhas asas de amar são resistentes e fartas; vou além

Custo a crer na existência de criaturas que comprazem-se

a esnobar, indiferentes, a esse orgasmo de sentires rotulado

pelos tolos de doença incurável; paixões matam a alma!

Que seja!

Morro plena em êxtase e gozo, não negando minha essência;

a de viver cada segundo como se o seguinte não fosse existir.