Tempestade

Durante a tarde toda, trovejou.

Um sonoro recado,

Como se fosse um aviso amplificado,

Que a todos preocupou.

O sol, indeciso aparecia

E se escondia,

Eliminando qualquer possibilidade de previsão.

O que aconteceria, dessa vez, com esse chão?

Pela televisão, soube que já chovia na cidade do Rio.

Pensei que, talvez, tivéssemos escapado desse calafrio...

O dia todo ventou bastante, o que foi bastante agradável,

Pois o calor estava literalmente, insuportável.

Conforme a tarde foi caindo,

O abafamento foi progredindo:

Sufocante,

Intrigante...

Desconfiei que algo estava errado.

Infelizmente, não estava enganado:

Ao anoitecer,

Ao invés de se esquecer,

O vento voltou enlouquecido,

Com a fúria de quem tivesse sido esquecido.

Chegou de braços dados com a noite,

Para climatizar seu açoite.

Dessa vez, veio bem mais barulhento,

Feito moleque briguento.

Brincou de aterrorizar,

Esbravejando pelo ar,

Seu desassossego,

Sua sinfonia de medo.

As palmeiras envergavam,

As goiabeiras se dobravam.

Tudo procurou abrigo,

Para escapar daquela espécie de juízo.

Parecia uma vingança,

Essa sua inédita dança.

Uma espécie de ameaça,

Uma cruel pirraça...

Fui para a varanda para inspirar

E, profundamente me limpar,

Definitivamente me desapegar

De tudo que estava a me incomodar.

Em meio aos clarões,

Berrei a plenos pulmões...

Implorei por lucidez,

Para escapar dessa aridez...

Parecia que levaria para longe a chuva,

Com suas inapreciáveis e negras luvas.

Estava completamente enganado:

Ela não só veio, como veio de lado.

Batendo as janelas,

Dando asas às panelas...

Fez voar tudo que estava em seu caminho:

Árvores, mesas, guarda-sóis, instrumentos de percussão,

Em meio à incredulidade, impôs seu desatino.

Parecia que estava ensaiando para se transformar em tufão.

Entrou água por todas as frestas,

Por todas as tabelas,

Por debaixo das portas...

Feriu todas as hortas!

A energia elétrica oscilava,

Numa coreografia amalucada.

Desliguei tudo

E aguardei mudo...

Foram duas horas de apreensão...

De absoluta atenção,

De chuva intensa,

De tempestade imensa.

Ao final, a constatação dos estragos:

Árvores peladas,

Outras tantas tombadas,

Um tapete de folhas arrancadas.

Todo tipo de objetos que pareciam alados,

Quedavam-se, agora, do lugar de origem, distanciados.

A maré cooperou

E o rio não transbordou.

Foi mais um susto,

Que nos calou fundo.

Restava apenas, a limpeza

E a incontestável certeza

De que está sim, acontecendo,

Amanhecendo,

Uma revolução no planeta.

Vídeo indicado:

http://www.youtube.com/watch?v=kqtUFvbcqNM&feature=related

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 28/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T2524847