FIQUE ESPERANÇA... POIS NÃO...
Andei meio sumido. Admito
E tudo se escafedeu à minha volta
Mudou cidade, casa, amigos,
Inimigos, abrigos ilusórios, compulsórios...
Resolvi reler velhos livros, novos castigos...
Revi Drummond, Leminsky, Gullar
Eles me bateram, macetaram-me a nuca
Doeu, foi ruim, foi bom, foi humano, foi é pouco...
Mudou um destino, um olhar ao mudar o chão
O mesmo encarar que não reagia por cegueira
Mas era meu, era da situação... Não. Era eu sem visão...
Não havia fatalidade, só um menino numa estrada...
Aos fundilhos dos ouvidos, um grito, uma evocação
Canção do exílio, Sabiá, do Chico, “vou voltar, voltar...”
E o querer era um ostracismo, um retroceder
A autofagia de mastigar os próprios pés
Hoje me redescubro, me decifro, me delato
Um medo claro abscôndito no novo início
Um outro ser que implora por um precipício raso
O mesmo ser que riu num final e não olhou para trás...
“O coração na curva de um rio”, aqui canta Milton
E escrevi com ele na curva da minha mão
Um vermelho esquisito escorreu por um vão
Achei algo perdido, agora... Fique esperança... Pois não...