CARTA PARA MIM (II)

Não me tomes frágil em demasia,

nem fortaleza na imensidão do meu ser,

sem serenidade em momentos de turbulências,

nem ociosa na procura do viver.

Não apontes em riste o indicador,

sou eu quem decido o meu caminhar.

É sinuosa a estrada eu bem sei,

para que reta se o fim há de chegar?

Não, não sou verdade inteira, alguém a é?

Sou tornado e sou brisa passageira.

Sou miragem no meu espelho de mulher,

sou de mim a minha própria mensageira.

Quantas sementes ao vento já soprei?

Quantas flores semeadas eu colhi?

Quantos espinhos cravados eu arranquei?

Quantos sonhos se perderam pelo caminho

quantas ilusões sozinha revivi?

Não és tu que rebordas o meu ninho,

nem tão pouco alinhavas os meus passos,

nem tem provas se sou água ou se sou vinho,

nem desfazes os nós dos nossos laços.

Sou alma cigana, sol da meia noite,

lua de prata que se derrama...

Estrela cadente que flameja nesse céu,

marca-passo de cristal, de aço e mel,

ferro corroído, rascunho ao léu.

Sou fera indomada que urge para o mar,

feiticeira de pecados parafraseados no universo,

fada dos meus sonhos que sempre subjuguei,

sou os quatro elementos da natureza, sou reverso,

sou tudo, sou nada...Passarada...

Não apontes em riste o indicador,

as minhas imperfeições já estão crucificadas,

perdoe-me o amor que lhe doei,

não era luminosidade de um farol que se apaga

mas verdade silenciosa que versou a minha alma.

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 26/09/2010
Código do texto: T2520872
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