Natureza morta


Caminhando por entre os destroços da vida
Conheci uma cidade perdida
Nessa cidade, na maior idade
Quase um homem, senti-me frustrado
Um coitado que não vê na caridade
Uma premissa maior, por sentir-se açoitado
Acoimado por duendes gentis
Sonhos pueris numa cidade fantasma
Asma, asmático, lunático a dor
Um sofrer que invade o ser do conquistador...

Quisera saber amar sem amarras
Abra-cadabra numa pérola anil
Varonil e estelar é a luz que me invade
Na cruz, a mágica estrovenga campal
Forte e reluzente, infernal
Resplandecente e mortal
Eu sinto pena de mim, por fim

Enquanto isso, eu mero conquistador
Sou transigente, demente e sem pudor
Novamente eu sinto a dor
Outra vez ouço perversão
Que amplidão sem cor, urra!
Surra na sombra leviana
Emana de mim uma sombra incolor

Ontem eu chorei por você
Hoje eu choro por mim
Será o fim da agonia repentina?
Na retina, a luz atravessa o mural da agonia
Mania de querer domar
Mania de viver no mar sombrio
Estio de primavera
Quem me dera eu fosse o senhor do mundo
Mas sou um eterno vagabundo
Imundo por natureza...
Sou primaveril, às vezes, pois sombrio
Rio da dor, da miséria, dos anos
Ah! O amor... dor, rancor, pudor, pudor...
Nasce a morte, irmã consorte
Eu sou o soberano! Corta!
A sena é assim... natureza morta.
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 19/09/2010
Reeditado em 20/10/2018
Código do texto: T2506759
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