Habito numa árvore enorme
Em que cada animal dorme
Fechado no seu egoísmo
Moro numa selva nua
Anónima, desabitada
Onde tudo se atropela.
No meio do meu silêncio
Ergo a minha voz e canto
Ou, se há demais sofrimento,
Ninguém se ri do meu pranto.
Entre terra e céu construo
O meu jardim, nele habito.
Chamo-lhe Éden e ninho
Canto alegre, meu recanto.
Pássaros chamam e eu digo
O que digo e vejo e escuto
Meu carinho retribuído.
Crescem flores em todo o lado.
Tenho os rios num aquário
E o sossego em que fico.
Há duas felinas mansas
Que vêm pedir-me mimo,
Como fazem as crianças.
Quando a dor é meu tormento
Vêm pousar-me no colo,
Consolar-me com carinho.
Lá fora, dizem, é o mundo!
Mas aqui dentro asseguro,
Meu oásis no deserto
... chamo-lhe meu paraíso.