FAZER O MUNDO, VIVER

                                                    
Para fazer o mundo não é mole, não!
É preciso fé, é preciso dor, é preciso benção
é preciso raiva, sofrimento, um pouco de macumba,
é preciso precisar, ter inveja, maledicência,
É preciso, creio, uma religião !
Para fazer o mundo é preciso disso e muito mais
É preciso ambicionar tudo que se quer
É preciso desejar o dinheiro, a glória,
O poder, o supérfluo, o corpo da mulher,
É preciso descobrir o ovo de Colombo,
Colocá-lo de pé
e comê-lo de colher
Ser desenganado, beber o leite derramado
Desrespeitar, crer, lutar, foder, amar
Ter a força de caminhar desnudo na rua
Fazer poesias, não ligar pros espelhos
Mostrar a bunda para lua

Para fazer o mundo não é mole, não!
É preciso mentir, fingir, magoar, engolir,
Mergulhar, submergir, se esconder, voltar e ir
Rezar, azarar, zerar, sujar as calças,se corrigir, fornicar,
Voltar ao ponto de partida,
Fracassar, arrepender, recomeçar,
É preciso ignorar a morte, beber,
iludir e medrar de vez em quando

Para fazer o mundo é preciso ser pequeno e grande
É preciso relevar, ser às vezes leviano, ponderar
Meter o dedo no nariz, injuriar , ceder, perdoar
Comer o angu de caroço da vida,
Ser um pouco injusto, reclamar
É preciso também um pouco de amargura
Para refletir na noite escura
Sobre a condição humana
É preciso dourar a pílula
Saber esperar a hora em que fruta madura
É preciso ser político, misterioso,
É preciso ser ás vezes ácido, sutil, ardiloso
Dissimulado, intrigante, irreverente, gentil, ser gostoso

Para fazer o mundo é preciso ser afável,
É preciso saber vender ilusão
A ilusão mórbida que as pessoas compram
Porque todo povo que se preza é estúpido,
E sempre aparece um líder astuto para roubar-lhe razão
Para fazer o mundo as vezes é necessário ficar no armário
Driblar convenções, fingir-se de morto,
Negar, para amenizar o calvário

Para fazer o mundo é preciso ser controverso e banal
Ser profundo no amor, desconcertante na vida,
Ser atinado, diário e trivial
Mas é preciso também ter integridade, princípios e rusticidade
Ser sagaz, verdadeiro sempre que possível, cultivar a humildade
É preciso dar vazão vez em quando, à criatividade para que a engenhosidade
Valorize a natureza do ser
É preciso acima de tudo, manter-se contente
Se não der, deboche, ria, faça humor
Porque na vida é preciso destruir para compor
Porque para fazer o mundo é preciso saber navegar na emoção
É preciso fazer um pouquinho todo dia
Sem olvidar a ironia, sem morrer, nem desistir
Sem esquecer aquela fezinha em Deus
Para que tudo se arranje sem muito esforço
É preciso ter dinheiro no bolso
E às vezes não ter
Não vender a alma pro diabo,
E nunca ficar refém
Mas se tiver que cedê-la
Faça isso só por amor
Entregue então seu corpo
Esta futura terra de ninguém,
Presenteie-o sem nenhum rodeio
Para uma só pessoa
Que lhe quer bem!
Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 11/09/2010
Reeditado em 19/01/2014
Código do texto: T2491318
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.