O SÁBIO /THE SAGE
O SÁBIO
JB Xavier
Eu já fui um sábio, desses que tudo sabem
Desses capazes de prever seus próprios destinos,
Desses cuja arrogância nem em si próprios cabem,
Desses sábios infantis, como inconsequentes meninos...
E assim, na adolescência eu julgava tudo saber
Decifrando mil mistérios da vida, e sempre falante,
Sábio demais até mesmo para perceber
Que ao me ouvirem julgavam-me um ignorante...
Aos quinze achei que sabia, aos vinte tive certeza
Aos trinta eu ensinava a viver
Sem que ninguém, ainda que por gentileza
Me ensinasse a nobre arte de sofrer...
Aos trinta e cinco finalmente percebi
Que haviam coisas que me fugiam à sapiência,
E de toda a vida que a largos goles bebi
Vi que boa parte foi de soberba e imprudência...
Aos quarenta tudo me contradizia,
Aos cinqüenta já quase nada encaixava
Pois eu via nos sorrisos que eu sorria
Meu passado que aos gritos me alertava...
E assim se foi a sapiência, levando minhas certezas,
Deixando mais perguntas do que posso responder
Foram-se os sonhos de loucuras e grandezas
Cedendo enfim espaço ao simples ato de viver...
E por conta dessas dúvidas, calo-me hoje e observo
Sabendo que não sou mais que desusado alfarrábio...
E talvez pelo meu silêncio e pelas dúvidas que conservo,
Ao me ver assim, meditando, julgam-me um grande sábio!
* * *
THE SAGE
JB Xavier
I've been a wise already, those who know everything
Those able to foresee their own destinies,
Those whose arrogance never and never ending,
These childish wise, like inconsequential crazies...
And so, as a teenager I thought I know all around
Deciphering thousand mysteries of life and always talkative
Too wise enough even to confound
Smiles from who consider me an ignorant definitive.
At fifteen I thought I knew, at twenty I was sure of it,
At thirty I taught others to live
An nobody taught me even a little bit
The art of suffering with or without motive...
After thirty five I finally realized
that there was things that had escaped of my wisdom,
And the life I drank in large gulps never apprized
about my arrogance, and kept it in its bosom.
At forty everything was contradictory,
At fifty nothing more made sense for me
Because I saw in the smiles I smile without glory
My past alerted me about I did not see...
And so goes my wisdom, taking my convictions,
Leaving more questions than it can answer,
Gone are the dreams of madness, and without cautions
Finally I became to a simple adler...
And because these doubts, today I stay in silence, just watching
Because I know I am no more than a teenage,
And maybe for my silence and the doubts I keep asking,
When they seeing me so, meditating, they think I’m a great sage!
* * *