SÓ QUERO SER POETA

Hoje não aspiro saber de mais nada

Apenas viajar sem destino ou lugar

Nas curvas soltas de uma linha rasa

Cuidando a mente pesarosa a descansar...

Manterei uns olhos cegos de asceta

Sonharei indigentes sonhos gigantes

Como olivas gordas arrebentando o ar

Em olorosos artifícios verdes, oleificantes

Que os canhões dos tanques lancem versos

Aos surdos ouvidos néscios dos ianques!

Que os sorrisos se rasguem bem de perto

Abertos em bocas galantes. Que me encantem!

Dispenso os augúrios do depois, do antes

Recuso as questões indigestas, diretas

E o inteirar-me de respostas estanques

Não vou perfurar debates, objetivos, metas...

Deitarei manso as pernas defronte ao mar

Os dedos cairão na quente areia quieta

Cessarei de compreender de amor, de amar

A vida terá morte contente: Só quero ser poeta.