eclipse da manhã chuvosa

Você é meu eclipse

E, eu seu inverno.

Você é meu tom.

E, eu seu dégradé...

Você é ópera e música

Enquanto que eu sou coral e melancolia...

Você é o silêncio por entre os tempos

E, eu sou a palavra impertinente.

Você é minha loucura.

E, eu sua sanidade contingenciada.

Você se revela, na expressão “por favor”...

Enquanto que eu,

Na expressão “obrigada”...

As vezes, escolhemos o que somos...

Se antes não tramarem contra nós a genética,

a história, a razão e todas as circunstâncias

que agem e interagem em cima de nós...

Pobres mortais que brincam de ser deuses

Não sabem que a eternidade não existe

Ou só exista para o esquecimento...

Enquanto o eclipse,

a súbita luz desponta na esfera encoberta

de mistério e angústia...

Percebemos que o movimento é maior que

a essência...

E, que nossas vozes cicatrizam no universo

a passagem de uma existência.

Os passos, os gritos, moldam caminhos

Misteriosos

Fabricados por suores, lágrimas, saliva, sangue

Amores e ódios

Pungentes a colorir primaveras abortadas

De flores ressecadas pelas queimadas...

As labaredas da vida

Levaram todo viço

E as cinzas da phenix

São levadas pelos ventos

Sibilantes e tortuosos

Eu acabo incorporando o eclipse que é vc...

E ainda sinto nas cinzas o calor das brasas

E nas brasas a maciez da pele

E no horizonte táctil,

esqueço dessa manhã chuvosa.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/09/2010
Código do texto: T2484516
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