eclipse da manhã chuvosa
Você é meu eclipse
E, eu seu inverno.
Você é meu tom.
E, eu seu dégradé...
Você é ópera e música
Enquanto que eu sou coral e melancolia...
Você é o silêncio por entre os tempos
E, eu sou a palavra impertinente.
Você é minha loucura.
E, eu sua sanidade contingenciada.
Você se revela, na expressão “por favor”...
Enquanto que eu,
Na expressão “obrigada”...
As vezes, escolhemos o que somos...
Se antes não tramarem contra nós a genética,
a história, a razão e todas as circunstâncias
que agem e interagem em cima de nós...
Pobres mortais que brincam de ser deuses
Não sabem que a eternidade não existe
Ou só exista para o esquecimento...
Enquanto o eclipse,
a súbita luz desponta na esfera encoberta
de mistério e angústia...
Percebemos que o movimento é maior que
a essência...
E, que nossas vozes cicatrizam no universo
a passagem de uma existência.
Os passos, os gritos, moldam caminhos
Misteriosos
Fabricados por suores, lágrimas, saliva, sangue
Amores e ódios
Pungentes a colorir primaveras abortadas
De flores ressecadas pelas queimadas...
As labaredas da vida
Levaram todo viço
E as cinzas da phenix
São levadas pelos ventos
Sibilantes e tortuosos
Eu acabo incorporando o eclipse que é vc...
E ainda sinto nas cinzas o calor das brasas
E nas brasas a maciez da pele
E no horizonte táctil,
esqueço dessa manhã chuvosa.