POEMAS DESENHADOS

Acordei apinhado de versos.

Os poemas desenhavam-se

Aos sentidos verticais

Como papéis de parede

E as rimas fibrilavam furta-cores

Num sincopado balé cardíaco

Pareando aos hemisférios,

Ao púbis, pendulando os ilíacos

Rebolando, críticas, seus mistérios

E me beijavam ao contrário, um ósculo onírico...

Bocas carmins ao baço, aos tratos urinários

Aos intestinos, pulmões, nervo vago...

Refestelavam-se por meus ossos cavernosos

Pelas entranhas ocas dos vasos

Correndo com pés alados, libertários...

Flanavam montados em buquês de raios...

Mas eu, pobre de mim...

Esta pobre consciência precária

Não estava em nada preparada

Para entender dos próprios confins...

Perdeu tudo ao primeiro gole

De café, indo da cozinha à sala...

A memória desconsolada vos relata

Agora, uma migalha, um restolho

Uma história conflitada, um fragmento

Do que foi o som desta magnífica sonata...