O relógio

A primeira coisa que lembro

é que nasci contando...

Coisa que fosse magnética

metal por dentro soando...

Coisa que fosse só coisa

uma peça, utensílio doméstico,

mas que era sempre observado

por operários e médicos...

Coisa ou metal coisificado,

lembro que uma essência tinha

a qual todos se juntavam a ver.

Não sei se a mostra ou escondida.

e sei que andava por pulsos,

outros vi pregados em paredes

outros adornados e vaidosos

E alguns amarrados em correntes.

Nunca soube pra que servia,

só sabia que algo em mim pulsava,

como um coração, mecanizado

que de vez em quando parava...

Foi nessas vezes que, parando,

me descobri lexicado máquina

pois que paralisado o meu pulsar

trocava-se uma peça e mais nada.

E o que era que havia em mim

que todos me olhavam de repente

e sempre, como que um deus?

Uma vez alguém disse: Tempo.

Pensei que tal era meu nome

porém outros diziam horas,

e outros só me apontavam,

para ver-me em pessoa...

Bem, eu era coisa, eu sei,

mas não entendo até hoje

o que há em nós Relógios,

este cá que é meu nome,

que as pessoas nos olham tanto.

Será um magnetismo tal

que atrai olhares alheios,

ou uma característica sem par

Ou será algo relacionado ao pulsar

que tantas vezes escuto sempre

que acontece todos os dias,

é isso que todos chamam de tempo?