General
Aqui estou eu
Sentada sob a luz da lua
Vendo se abrirem velhas feridas
Sangrando como se fossem recentes
Porque há feridas que nunca são curadas
Cujas cicatrizes sempre voltarão a atormentar
Cujo corte marcará para sempre minha pele outrora inocente
Cuja história constantemente renderá lágrimas escondidas sob o travesseiro
Ainda hoje escorre o sangue dos meus erros
Que o tempo deveria ter apagado
Mas se o passado permanece imutável
Eu deveria escrever meu futuro
Como, no entanto, seguir em frente se as antigas feridas ainda doem?
Como enfrentar o presente se o passado ainda não foi vencido?
Porque o futuro não parece trazer alívio algum para minhas chagas
E às vezes me sinto cansada demais para lutar
Será covardia ansiar por um lugar à sombra para descansar de um dia inteiro de batalha sob o sol escaldante
Se os seus homens continuam de pé?
Como saber que caminho seguir se os inimigos te cercam de todos os lados?
Será covardia pensar no desejo de viver
Quando todos sacam suas armas?
Você sente as feridas doerem
E sabe que em breve terá novos cortes
Mas há muitos pares de olhos firmes na sua direção
A espada quase salta para sua mão
Você sabe que por mais que lutem
A luta é sua e de mais ninguém
E você é o senhor da guerra e da espada e de todo o deserto
Por alguns instantes nada nem ninguém pode te atingir
E os inimigos caem como peças de dominó
Você sorri, mas logo sente a dor da espada trespassando seu ventre
Olhos incrédulos e desolados assistem sua queda
E você vê seu sangue jorrar como uma fonte de vida, de morte...
Eles olham para você, eles confiam em você, mas tudo dói e você não consegue se levantar
Os inimigos riem de você como ririam de uma piada
A espada de repente torna-se tão pesada que escorrega por entre seus dedos
Você não é mais o senhor da guerra, ela é o seu senhor
E diz que chegou a hora da retirada
Você procura os olhos que confiaram-lhe a vida e a honra
Quase certo de ver decepção no fundo deles
O respirar torna-se pesado e lento
E os pulmões parecem cheios de sangue e dor
Mas não há decepção nos olhos
Há orgulho
Orgulho de um líder que esqueceu suas chagas e lutou até o fim
Que admitiu o medo mas não se deixou por ele escravizar
Que não temeu o medo mas lhe ensinou seu lugar
Uma mão estende-se ao vazio, procurando as de seus companheiros
Mas é tarde para o toque quente de mãos amigas
Pois as novas feridas uniram-se às antigas
E não é covardia admitir que é mais do que se pode suportar
Para uma vida de glórias tão poderosas quanto as cicatrizes que sua busca provocou
Só resta a merecida paz
E a certeza de que agora as feridas nunca mais voltarão a doer