Contraste
São em devaneios com exatidão
Que vejo jorrar de fundo a água
Que secou as lágrimas inúteis
Quando olhava os olhos lânguidos
Pela passagem de algum rito
E a complexidade que se limitava
A debater sem ar nos pulmões
A poeira que cobria de todo o desejo
Cada vez menos fugaz e feroz
Esvairia-se pelo fundo do poço
Mas não era uma necessidade medida
Acontecera sem nem mesmo esperar
E assistindo silenciosa essa transformação
Percebi haver nascido alguma coisa
Que me subia pelas vísceras a gritar
No fundo era uma espécie de passagem
Vaga e docemente sagaz
Com ímpetos que emanavam crueldade
E ressurgiam-lhe com gosto amargo
Sem que lhe tirassem o adocicado do mel
É verdade! Era um contraste aceso
Que o tempo tratara de criar
Para que nem mesmo as forças ocultas
De algum sentimento superior
Pudessem trazer de volta o amor