Eu lutei contra uma folha em branco
Eu lutei contra uma folha em branco
Eu que a venerava quando escrita
Eu que vislumbrava as tortas letras quase listras
Eu que a odiava a assim refletir o nada
Eu lutei contra uma folha em branco
Pois não suportava mais a idéia
Eu que me julgava pensar com modernidade
Não agüentava não ter palavras para vencê-la
Por momentos mais tristes eu pensei
Não tenho mais palavras de pedra para lançar
Não sei mais uma explosão no papel causar
Nem sei mais jorrar como sangue escrever
Eu lutei contra uma folha em branco
Nos confins da mentia sentia
O instinto que sente o assassino frente a presa
Nesse sentimento a gente confia
Larguei de mão toda a preocupação
Com o que seria?
Quem leria?
O que diria?
Rabisquei tolas palavras de amor
Ofendi velhos inimigos
Meu passado exaltei
Contei, só um pouco não muito,
De toda a minha dor
Agora frente a mim
Folha ridícula
Não mais em branco
É lançada na minha gaveta desse armário velho
...
E de que adianta?
Se certamente ela será esquecida?
...