Gata Borralheira sorrindo
(queria me deparar com)
uma poesia que me rasgasse o peito
me infiltrasse a alma
anulasse-me os sentidos
me deixasse inibido
diante da atitude de ser poeta
que me prendesse os olhos
no que estivesse lendo,
ouvindo, rindo, chorando
indo pra algum lugar
voltando de lugar nenhum
uma poesia incomum
terrivelmente invulgar
uma poesia pra odiar
e ao mesmo tempo curtir
como se não houvesse onde ir
ou mesmo aonde chegar
ou então com quem se alegrar... mais
mas ninguém é obrigado
a ter essa poesia
(por isso é que da maresia
não se pode só lamentar)
ou ninguém tem a obrigação
de ter sofrido tanto
muito menos eu,
que não carreguei cangalhas
ou andei de antolhos
e não passei de uma gata borralheira
cuja infelicidade foi passageira