Subúrbio/Centro
O subúrbio acorda cedo
Para engordar os patrões
‘Untar as canelas de sebo’
E sair batendo os portões.
A mãe reza Ave-Maria,
E, se ainda tiver dinheiro,
Vai correndo à padaria
Comprar pão pro dia inteiro.
Casca de banana no sapato
Para lustrar e parecer novo;
Um cachorro com carrapato,
Coça, coça, no meio do povo…
Um alcoólatra bebe pinga
No mesmo balcão de café;
Ninguém liga ninguém xinga
Do odor que vai até ao sopé.
Quando chega ao asfalto
A garota troca o calçado:
Às vezes calça o de salto;
Às vezes, o outro alçado.
Lá vem o ônibus cheio…
Procura-se um encosto;
A dúvida está no rosto-
Ficar no fundo ou ir pro meio?
As meninas dos supermercados
Nem sempre gozam os feriados;
O subúrbio acorda muito cedo
E os salários não pagam o medo....