AS VÍTIMAS

AS VÍTIMAS

O escândalo rebentou, o povo ficou assustado

Ao saber de tanto jovem violentado

Por bestas que de homens não têm nada.

E o Estado que tinha a missão de vigiar,

Dar formação, fazer crescer e educar,

Continua a lavar as mãos nesta embrulhada.

As crianças foram violadas, maltratadas,

E durante décadas suas queixas ignoradas,

Pelo desinteresse e silencio de tantos.

Hoje ninguém é réu, só há inocentes,

Somos um bando de cobardes contentes,

Num país brando… onde só há santos!

A justiça perde-se num infindável emaranhado,

Que só beneficia quem é réu ou culpado

E tem dinheiro para pagar a um bom jurista.

As vitimas… que podem fazer, coitadas,

Se até pelo Estado são abandonadas,

E não têm para pagar quem as assista?

Se a justiça prende e pune quem é pobre,

Ou se as asneiras dos ricos não descobre,

As leis estão bem, não precisam mudança.

Mas se são os ricos a contas com a lei,

A legislação é obsoleta e aqui D’el-rei;

Há que alterá-la e revê-la sem tardança!

Há muitos que não se cansam de defender,

Aos amigos que a justiça quis deter,

Clamando a sua inocência com ligeireza.

É razão para em segredo lhe perguntar,

Se sabem o que se passa no próprio lar,

E se podem afirmá-lo como certeza?

Nunca em Portugal se ouviram tantas vozes,

Em defesa dos acusados, pareciam algozes,

Culpando a justiça e a lei que a sustenta.

Mas os mesmos que agora se levantaram,

Nunca abriram a boca, sempre se calaram,

Quando ela para os pobres foi violenta.

A confusão que não pára de se gerar

É obra dos que querem desacreditar

A justiça e os seus agentes;

O que é feito só para beneficiar

Os culpados que querem fazer passar

Por vitimas santas e inocentes.

O segredo de justiça é violado,

Porque há alguém interessado

A pagar alto a quem o faça.

Pois o dinheiro que tudo move;

Pode fazer que o imoral se aprove

E se torne justo e legal o devasso.

O tempo tudo cura, apaga ou esquece

O sentido de justiça, morre ou arrefece

E dá lugar ao silêncio da descrença:

As vitimas cansadas não vão reagir,

E os criminosos podem continuar a rir,

Sem que neles caia o peso da sentença.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 17/09/2006
Código do texto: T242279