Singularidades...
Quero um pensar
Que seja meu...
Apenas e inteiramente meu...
Como a pele
Que reveste meu corpo
Aderida a mim...
Sem qualquer parte de outros
Ah que o meu pensar
Seja unicamente meu
E de mais ninguém...
Que seja simples
E espontâneo
Como espontânea é
A simplicidade das crianças...
Que esse meu pensar
Seja como eu, singular...
E único... como meu olhar
Ao contemplar a vida...
Ao contemplar o mar
As flores e o Sol, a contemplar...
Seja esse meu pensar
Um pensar insólito
Ao sentir a dor
E ao derramar sobre ela o amor...
Que esse meu pensar
Seja sensível, tolerante e amoroso
Para acolher a singularidade
De cada ser e de cada pensamento...
E que seja um pensar mutável
Elástico... plástico e intuitivo...
Diante do tempo que se faz
Incerto e inexorável a cada momento...
Ah que esse meu pensar
Seja humilde, aberto...
E tenha sede de amplitude
Que por saber-se pequeno
Sinta-se desfiado a ir além...
Então que o meu pensar
Seja capaz de transgredir e...
Romper com seus limites...
Ah que esse meu pensar
Seja um pensar vivo e dinâmico...
Como inédito é o movimento da própria vida...
Para que perceba em si,
Com a mesma intensidade,
A plenitude do instante...
A infinitude do tempo
E a finitude da vida...
Ah que esse meu pensar
Então seja firme...
Como firme
É a rocha que piso
E que me sustenta
Assim como suporta
As lavas de um vulcão
A abrir-lhes sulcos
E a queimar-lhe as entranhas...
Pois que o meu pensar, por fim
Seja livre...
Como livre é o vento
Que circunda o monte
E sobrevoa o oceano...
Da mesma forma
Que me beija o rosto
A enxugar meu pranto...
E que se faz simples
E encantador no fremir
Das asas de uma borboleta...