Beco

há livros na estante

que me observam

e me incomodam

numa aflição desmedida

que há para ser dito

que já neles não resida?

presa no beco escuro

fogem de mim as palavras

tento ouvir o rumor do mar

a vida além do muro

o canto das sereias

os gritos das aves

meu sangue nas veias

persigo sonhos e saudades

só encontro

a insônia no sonho

a invenção na saudade

os dedos cheios de nós

a alma cheia de entraves

o coração refratário

um cansaço no corpo

opto pela solidão

guardo-me no armário

até chegar o verão