- Outono em Desassossego -
Jamais serei transcrito
Sou somente um punhado de manuscritos
Que teimam em ser livro.
Volto sempre ao início de tudo.
Um livro não tem a liberdade
de contar e viver o que não lhe cabe.
Encerra-se em si mesmo.
Predestinado à uma prateleira.
E eu quero ser uma constante reescrita.
Sou alma de borracha
papel e tinta.
As horas passam-se
e ao darmo-nos conta
Vemos o tempo vasto
Escorrer-se de nossas mãos
Como as areias apressadas
que tragam a ampulheta.
E constatamos que a eternidade
Jamais poderá ser aprisionada
Nos ponteiros de um relógio.
Pomos o pé na estrada
sem pretenções
e abre-se um mundo.
E vem o tempo, e apaga tudo no fim
como o vento que oculta as pegadas...