O Parto da Poesia
Pra mim há dois tipos de poesia.
A forma não importa, o resultado
é que vai ser fruto da alquimia
pelo qual o processo é deflagrado.
Certos poemas fluem como mel,
escorrem aos borbotões pelo papel
sem uma pausa ou falta de memória.
As palavras até saltam pela boca,
e os sinônimos, em disputa louca,
brigam pra ter o seu lugar na história
Mas há poesias que são um sacrifício,
aquilo que se chama “ossos do ofício”
e que até levam o poeta à exaustão.
As palavras fogem, as rimas somem,
tudo que pode enlouquecer um homem
e manda o poeta encontrar a solução.
Curvado ao peso de mais um desafio,
vai ele enfrentando chuva e vento frio
que caem dentro da mente e coração,
porque esse tempo ruim é resultado
do poema que trilhou caminho errado
e até entrou em conflito com a paixão.
Mas o poeta, que é bom diplomata,
resolve esse problema na hora exata
em que era necessário desatar o nó.
E a poesia enfim sai, Mas que sufoco,
enquanto nosso poeta, exausto, rouco,
vai acabar mais uma vez ficando só.