LABIRINTOS E ALMA
São três da manha e eu volto cansado para o ultimo reduto dos meus sonhos.
Eu já tenho o gosto da aurora na minha boca, mas ainda carrego o sal da noite nos meus olhos. O silencio me observa. Meus gestos são de quem saiu de dentro de si e perdeu a chave e não pode mais voltar e agora contempla o mundo sem entendê-lo, que dirá aceitá-lo.
Minhas mãos escrevem nas paredes das ruas, sinais para meus companheiros, que partiram. São códigos, marcas da solidão que acenam para todos aqueles que tem a mesma geografia e que se perderam na mesma latitude que vivo.
Somos da mesma tribo que navega pelas cordilheiras das angustias silenciosas e sentimos o mundo, como se fosse uma caixa de ressonâncias a ressoar os gritos que nunca saíram de nossas gargantas. Não mais temos voz, temos sentimentos que se apequenam diante das incertezas e as palavras que vazam pelas torneiras das mãos, diretas para o papel, como conta gotas do lago profundo e escuro da alma.
As noites são travessias difíceis para os inquietos. Vivemos cercados de abismos. Tudo é ampliado e tudo ganha dimensões de universalidade e metafísica. Tudo no fim converge para o porto assoreado onde nenhuma conclusão jamais aportou. Todos os caminhos, se existissem, seriam confusos.
Porque as palavras, as velhas palavras, são toscas demais e não podem dar sentido ao que talvez sentido não tenha. Assim impera a dor e a incredulidade.
Nada nos pertence, a vida não nos pertence, por isso não talvez não tenha sentido. A morte é inexplicável, a vida é mais inexplicável ainda. As razões foram guardadas longe dos nossos olhos. Por isso só nos resta fingir.
Meu caminho é nenhum. Porque alguém haveria de me seguir? Fora de mim, sou o nada. Dentro de mim não me acham. Sou um ponto nada instigante no gigantesco labirinto do planeta, que por sua vez é um minúsculo ponto do não menor labirinto do universo físico, que é nada em meio ao gigantesco labirinto da não matéria, que seria o universo de todas as coisas.