“Madrugada”

(Luiz Henrique)


Madrugada
dos “pé inchados”
das noites adentro
do beco deserto
do perigo iminente
de abortar
o rebento
decerto

madrugada
da mágoa
afogada


Madrugada
das mulheres de viração
alçadas
nas calçadas
o dinheiro
é patrão
das meninas
nas esquinas

madrugada
da puta só
abnegada


Madrugada
das vigílias
e da fé
ao santo de barro
no andor
da penitência
da mãe mulher
e do pastor

madrugada
da crença cega
arraigada


Madrugada
dos cantores
noturnos
dos poetas
e escritores
soturnos
da euforia
da noite
da tristesa
do dia

madrugada
da inspiração
fatigada


Madrugada
da solidão
do bar
do mar
dos quereres
arrebatadores
do desejo
de mil amores

madrugada
da existência
excomungada


Madrugada
do choro
e do riso
do grito
de párias
em coro
no caminho
impreciso

madrugada
da vida promotora
da morte advogada


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Foto: google
Autoria desconhecida