O Cio Das Palavras

By Carlos Maciel

Que pena falar: que pena!

Pena porque se pena a penumbra do silêncio de palavras não ditas...

Eis de que tenho pena:

Do cio do silêncio que me corroem os lábios cerrados,

Que almejam a palavra livre, desencadeada, torrenteante,

Que esbraveja o quase urro de sons unisilábicos...

Silêncio que liberta doutrinas, modos, conceitos, verdades e seus opostos,

Oposto do silêncio que se prende e prevalece no cio das palavras...

O cio que me vicia na liberdade, pois verba volant desde o cio do psiu,

Que não silencia, apenas aguça a som da palavra SIM!

Que não se nega, se apega, se liberta, se corrompe, se perdoa,

Regenera-se a cada som propagado no quase bocejo de uma vírgula no ar...

Regeiras são palavras que se mostram mestras,

Eia!

Elas não as são!

Por isso, volto ao meu vicio,

Sem sair solenemente,

Cio corruptível,

Que me dá rijeza flexível, pois verba volant...

Sou volátil como as palavras,

Não sou poeta de palavras inteiras,

As minhas são volanteiras,

São ações relampejantes, de cio constante, de silêncios ininterruptos,

Corruptos em sua natureza, pois que livres são...

Eia!

Escute meu cio!

É ele quem vem de lá pra cá, de cá pra lá,

Em ondas voluptuosas de silêncio,

Água-de-javel que me limpa a língua,

Volantes, saem dela palavras de meu cio cortante,

Sou silêncio inocente, sou volúpia escancarada,

Sou palavra pluralesca, invejante como o cio de uma amante,

De corrupios, que na inocência, transparecem o véu,

Do que quase mostro pelo cio das palavras que me povoam.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 22/06/2010
Reeditado em 27/10/2016
Código do texto: T2334649
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