Quem sou eu?
Quem sou eu?
Eu sou uma gota salgada do mar.
Sou um grãozinho de areia frente ao infinito.
Sou um navegante perdido numa ilha isolada.
Eu sou um grito de socorro apertado no peito e na garganta.
Eu sou um menino chorão e às vezes bobão.
Eu sou um cara forte, que busca força em suas próprias fraquezas.
Eu sou um bosque sombrio e escuro.
Eu sou a lua cheia e solitária no céu de uma vida abandonada.
Eu sou o espelho de uma sociedade injusta e desigual.
Eu sou a risada de uma criança sonhadora.
Eu sou a ilusão dos que sofrem.
Eu sou o nada dos que nada possuem.
Eu sou a esperança de quem insiste e persiste na vida.
Eu sou um lugar qualquer de uma estrada qualquer.
Eu sou tudo aquilo que vi e sou mais ainda aquilo que não vi.
Eu sou tudo aquilo que sonho e imagino para mim.
Eu sou um oceano de lágrimas agitadas.
Eu sou o abismo da escuridão.
Eu sou um poeta perdido na solidão.
Eu sou poesia e lamentação.
Eu sou vida e como tal faço parte desta podridão.
Eu sou a injustiça da existência castrada, podada e roubada.
Eu sou fruto da vida que me é a cada dia usurpada.
Eu sou o fio da meada.
Eu sou o restinho da esperança desenfreada.
Eu sou um pedido de ajuda, de socorro.
Eu sou um contribuinte.
E sou também um pedinte.
Eu passo a vida a buscar e a pedir por amor.
Eu busco por justiça e peço por amor.
Eu peço por justiça e busco por amor.
Eu sou essa eterna luta que se faz no cotidiano de um mundo globalizado.
Eu sou mais uma peça desse mundo tão integrado e ao mesmo tempo tão desconectado.
Eu sou aquele sonho pelo mundo pulverizado.
E sou a canção jamais cantada.
Eu sou a poesia não recitada.
E sou a esperança todo dia assassinada e a cada amanhecer renovada.
Eu sou aquele que morre a cada dia para renascer novamente no dia seguinte.
Eu sou um mutante nada constante.
Mesmo que minha vida seja um tédio imposto por essa sociedade tão obscura.
Mesmo que minha vida para o mundo pouco ou nada represente, eu sou um eterno mutante.
Eu vou me transformando a cada momento.
E vou me envolvendo em novos e surpreendentes sentimentos.
Eu sou essa voz que quer falar, mas não fala.
Eu sou essa poesia que sai espremida, dolorida.
Eu sou essa luz presa na escuridão.
E sou acima de tudo confiança num novo e belo amanhecer.
Eu sou a fé que num mundo melhor quer acreditar.
E eu sou além de tudo isso, a justiça, que espera o momento certo para nesse mundo poder finalmente nascer, crescer e, quem sabe um dia finalmente se desenvolver.