QUEM MAIS ME ACARICIA

Sei bem pouco de minhas mentiras

Mas sinto que verdades se revelam

Em meus momentos de pedra,

De água estagnada na bacia,

De quando Inês é morta...

Falso é quem mais me acaricia.

Tal um capricho de Fedra!

Navalha acerada

Na barba fugidia

Aquela que, da pele,

Por nada, toda desgarra

E dela, dela mesma

Fica um quase nada

E cresce de novo

Todo santo dia

Enquanto encaro meu rosto

De esguelha ao espelho

O cotidiano e usual estorvo

Da nova manhã seguinte

A pinicar-me o espírito

A mentira sempre se instala

Para ser escanhoada

De minha inculta alma

Com cuidadoso requinte

Por minha lâmina escrava