NOITE

A noite é para o poeta, para o ladrão,

Permite tudo que a escuridão esconde,

Protege até o que a consciência condena,

Expõe tudo que o dia constrói e vela.

Só a noite tem lua que prateia até o pobre,

Tem madrugada que acoberta todo choro,

Escuridão que encobre amantes e pecados,

Que permite ébrios e até versos bêbados.

Nas noites, enquanto a cidade dorme,

A intimidade das casas constrói filosofia,

Os bordéis repletos desfilam a decadência,

E a vida descuidada mostra a outra face.

Nas noites os anjos vagueiam e protegem,

Os demônios conquistam e incitam almas,

Enquanto o orvalho molha as calçadas,

E o sereno abranda os heróis que dormem.

Enquanto a prostituta conta a féria,

O operário passa o café do desjejum,

O galo canta e anuncia o sol que chega,

A vida sóbria recomeça, agora a descoberto.