Agora que dormes completamente saciada
Um estupor me mantém assim, insone
Repleto de teu torpe concreto imóvel
Feito estátuas com teus olhos de luz
Nada me livra de teu jugo, teus grilhões
Eu era tão simples e me tornaste urbano
Tão pequeno diante de tua imensidão
Tão indefeso diante de tua frieza
Mas és tão bela à noite, tão crua
Tuas luzes mortas, tuas ruas nuas
Deserta, certa, aberta para quem chega
E cerrada fortemente para quem quer sair
Amo teus trens, teus túneis, teus vagalumes
Tua fosforescência incorpórea e disforme
Teu beijo quente para os meus olhos
Teu abraço forte inexpressível
Eu te abandono e na volta sentia tua falta
E eu volto para me sentir completamente incompleto
Porque falta-me o que saborear de ti, sempre
Falta-me um pedaço a mais, um canto inexplorado
E te desconheço cada vez mais que te conheço
Porque cresces aos poucos, te moves, estás viva
Nunca morre, nunca descansa
Nunca para, nunca dormes
Como eu neste estupor
Completamente insone
Neste torpor, imóvel
Concreto, urbano
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 22/04/2010
Reeditado em 08/08/2021
Código do texto: T2213636
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