Cena familiar antiga
Em cima da cadeira um violão
Um desses antigos, guardado com todo o cuidado
O menino em olhos inquietos o observa
Aparentemente, essa criança faz uma leitura
Do livro de capa grossa que tem nas mãos
Seu mundo, todavia, é numa canção
Os pensamentos dão conta dela
E mexe os pezinhos discretamente
Por baixo da toalha branca da mesinha de leitura
O pai está numa cadeira preguiçosa lendo o jornal
Vez por outra vira a cabeça em atenção ao menino
Não lhe recrimina pelo comportamento
Para dar alegria ao filho deixa-o flutuar em sonhos
O que faria um pintor numa cena familiar
De inúmeros tons nos pensamentos de um menino?
Mas o pai ergue a vista; há ainda a esposa e as meninas
A sala ficaria abandonada sem os risos no sofá
Com delicadeza e cuidado a mulher
Passa a linha de um lado a outro do tecido
Como se estivesse bordando um ponto de amor
Entre as conversas, cada uma das pequenas tece seu destino
Num ornamento do ambiente onde aparecem castelos
Um padre, os vestidos brancos, as flores de laranjeira
Tudo remete a pessoais reais, num plano amarelado
O piso tem essa cor, com um tapete mais vivo
Tão simples são os brinquedos esquecidos neste
Um parece ser um carrinho de madeira em tinta gasta verde
Deve ter viajado por calçadas e terras batidas no quintal
Eu poderia até me fixar nos rostos das crianças
Para descobrir se querem brincar
Todavia não entendo dos papéis
De uma sociedade do final do século XIX
Então só posso admirar esta tela a óleo.