Filamentos

Filamentos ajudam

filamentos descobrem

filamentos descuidam

filamentos destroem

Filamentos que sobem

ousados por minhas pernas melífluas

Enroscam-se em meus testículos

e explodem em minha garganta

pétalas de mel e de dor

Todas de extremo sabor

da lentidão exaurida

de um pensamento sem cor

Do doce momento da vida

que já não invento. Do amor

da vaca morrendo esquecida

Do João-de-Barro na areia

na hora que o trem vai passar

Da imensidão do pomar

na estranha luz do luar

no estranho mês de abril

Da gargalhada gentil

que eu nunca quis encontrar

Do filamento sutil

do qual nunca pude esperar

algo que ainda não fui

ou mesmo que nunca serei

Andando depressa esbarrei

no brilho da luz da manhã

na ponta da vara do anzol

no beijo solene da anã

que veio com os raios de sol

A noite que eu quis pra jurar

que via no monte o anil

do brilho de luzes vulgar

Não era no mês de abril

Setembro não vai começar

Não sou quem você nunca viu

Não quero de novo encontrar

os filamentos distantes

na mera vontade sutil

de ter da vida o calmante

que invade a todo instante

meu pensamento febril

O temperamento hostil

da alma coadjuvante

que teve até o desplante

de me dizer que existiu

Filamentos marcantes

filamentos que dobram

filamentos que entortam

a sede e o sono agourentos

Filamentos, os agüento

na pele do rosto. A cambraia

que envolve meu corpo

que muda de situação

Sob a saia mantenho

a salvo o escudo, o padrão

que não vale mais que meu dedo.

O medo que eu esteja tão só

na hora da vinda do pó

no vale repleto de relva

na praia tão cheia de conchas

no edifício de aço

na tela da televisão

no estrondo do avião

nos braços da amada chorando

os filamentos de mim...

os filamentos assim...

a fila do aumento do fim.

Rio, 13/02/2006