Cuidado: Dor no Início!
É difícil imaginar o tamanho da dor alheia,
Até porque, ela, camuflada, serpenteia.
Não dá para ter a exata noção,
A precisa dimensão,
Do sofrimento do outro,
Ainda que se cave feito louco.
O problema começa por julgarmos a situação,
Sobre os nossos parâmetros, velhos conhecidos.
Imaginamo-nos no lugar da pessoa,
Com a nossa razão,
Com os nossos sentidos
E proferimos o veredicto,
Sob o nosso juízo!
- Operação à toa –
O que, para nós, pode parecer nada,
Ao outro, pode ser uma tortuosa escalada.
Nosso conhecimento do assunto é sempre parcial.
Ao outro que está vivendo,
Que está, honestamente sofrendo,
Pode ser, realmente, algo acima do passional,
Um entalhe fundamental,
Uma falta descomunal...
Irrita-me, por vezes, ouvir o discurso
Dos que querem, “com jeitinho”, mudar o curso
De um acontecimento,
Que causou incontestável sofrimento.
Normalmente, atacam com clichês insuportáveis,
Com frases feitas intoleráveis,
Tudo para “levantar” a pessoa atingida,
Como se a essa, não fosse permitido, sentir-se abatida.
Chegam com tapinhas nas costas,
Com conselhos inaplicáveis, em postas...
Sem disposição alguma para ouvir,
Porque já estão com um pré-julgamento
E não vão abrir mão do seu argumento.
“Estou falando para o seu bem”!
“Isso não é nada”!
“Logo você estará dando risada”!
“Você já passou por coisas piores”!
“Sei, que você é forte”!
“Você tem que reagir”!
“Tem que se superar e ir além”!
Não, que essas máximas, sejam inválidas.
Ao contrário, são de uma sabedoria máxima.
O que contesto é o momento a serem aplicadas.
Num primeiro momento
De mortal abatimento,
Se ouvidas, serão, indubitavelmente, ignoradas...
Querendo acelerar a cura em seu processo,
Acabam causando um retrocesso...
Por antecipar a retirada do curativo,
Codificando o incômodo, no diminutivo.
Para, efetivamente,
E não, egoisticamente,
Ajudar,
É primordial respeitar.
Em muitos casos, só o desabafar, sem julgamento,
Já ameniza o abatimento.