A Cor da Poesia

A poesia tem a cor da hora em que é feita,

mas não da hora que o relógio marca

e sim, da hora interior

que está na cabeça do escritor.

Se a poesia é matinal,

fala de flores, juventude, sol

de coisas que chegam a bom final

como sói acontecer num arrebol.

Se é vespertina,

traz nas palavras o cair da tarde,

com adjetivos se esgueirando

entre a penumbra dos versos

de um sol que já não arde

para iluminar substantivos

que entre os pronomes mais diversos

ainda continuam ativos.

Se a poesia é noturna e há luar

as palavras são fáceis de encontrar

e juntas fazem uma serenata

à folha de papel que as acata

e as transforma em poema

valorizando o encontro do tema

que o poeta elegeu.

Mas se a noite é escura como breu,

é difícil encontrar porto seguro

para cada linha da poesia.

Ela tateia a trilha que perdeu

para encontrar a frase mais correta

que a conduza à mente do poeta

e o lembre mesmo até do que esqueceu.

Agora, se lá fora é madrugada,

há de ter vulto da mulher amada

em cada pensamento que é escrito,

ou para agradecer por tanto amor

ou para lamentar o fim, e a dor

que só mesmo a poesia então acalma

porque se o transe do corpo é infinito

a paz só vai se achar dentro da alma.

É assim a hora da poesia

que dura muito mais que o nosso dia

e mais que as horas no relógio dão.

Porque no verso o tempo está marcado

no corpo de quem, predestinado,

arranca as rimas do seu coração

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 26/03/2010
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