Incoerência
Incoerência
Não consigo ver qualquer coerência no Amor; parece-me um jogo desordenado, sem qualquer tipo de regra,
Um quebra-cabeça esquisito, desses que a gente nunca resolve (e também não consegue deixar de jogar).
Em teoria, amar deveria prescindir de conflito; na prática, são os amores tempestuosos os que mais fundo irão nos tatuar.
Não escolhemos a quem amar. A química, sutil como é, é determinante – quase sempre nos coloca diante de quem mais peças nos prega.
Em alguns momentos pensei em levar uma vida pacífica, uma dessas vidas sem cheiro de nada, findando meus dias a jogar damas em uma calçada qualquer.
Então, faço um exercício de imaginação: visualizo meus companheiros, senhores bonacheirões, imensas barrigas, (a maioria já ostentando luzidia calvície) camisas desabotoadas.
Que belo quadro a exibir para os netos! A esperar por estes senhores tão circunspectos, gordas matronas, rainhas de um lar carcomido, muitas já dormindo em camas separadas.
Nem bem pensei, já abri mão de tão régia empreitada. Decididamente, não é este o meu sonho de vida (não gosto mesmo de jogar damas, mas quero dormir e acordar com a minha mulher.)
Que diabos! Que missão mais complexa, essa de querer amar sem ressalvas, de almejar dois seres um único formar.
Entretanto, a própria busca, embora traga em seu bojo inúmeros desconfortos, nos faz descortinar melhor o horizonte a seguir.
Amar é uma arte, escreveu alguém há muito tempo. Além disso, posso acrescentar que amar amedronta, pois não temos nenhum domínio sobre o porvir.
Incoerentemente, quem ama quer certezas, guarda ciosamente o Amor de Ontem, omite o de Hoje e fica pelo amor de Amanhã a esperar.
Amar é, sem nenhuma sombra de dúvida, muito dolorido. Mas, apesar das dores e dos sobressaltos que o amor físico nos traz, não há como abrir mão dele, mesmo que a durabilidade desse sentimento seja totalmente incerta. Tenho para mim, que o Amor é um sentimento para ser vivido, não para ser racionalizado. Afinal, alguém com bom senso poderá nos garantir a certeza do Amanhã?
Cidade dos Sonhos, noite de um Domingo muito quente de meados de Março de 2010
João Bosco