Lucidez demorada
Era mais forte quando sem querer parava para pensar
Como habitualmente era necessário estar
Para que não fosse engolida de vez por alguém
Alguma espécie de Deus oculto nas palavras
Que subentendiam que a vingança para ela seria demorada
Por isso volta e meia esquecia-se de esquecer
Mergulhava fundo em devaneios de loucura
Que verdadeiramente eram de pouca lucidez
De quem já não tem mais forças para bradar
A própria loucura de estar vivo
Eram espaços inócuos de lembranças
Velhos resquícios de algo tão normal
Que se parecia cada vez mais não pertencer
Para além das profundezas do mar
Era tonta coitada, tonta de amor
As flores que agora sobreviviam no jardim
Dessa existência tão pouca, tão barata
Eram apenas os restos da luz que o sol deixou
Para que às vezes acordasse de algum sonho
De estar em uma realidade mais utópica que a sua
Pois que vinguem-se para sempre
Derramem toda lama nessa glória desvanecida
Pois a vingança é leve e doce como um espinho
E quer perfurar devagar a pele morta
Só pelo gozo de estar possuindo