Para não esquecer

Milhares de corpos despedaçados

Nos fogos e nas torturas dos exércitos armados

Nos pensamentos livres considerados culpados

Nos sonhos de liberdade cruelmente apagados

Amordaçadas palavras e sorrisos

De uma juventude que sem avisos

Foi levada a lutar contra uma ditadura

Pegar em armas e atravessar a noite escura

A insensatez do poder a corromper

Ditar regras, matar, exilar e prender

Esconder na vastidão do mar ou em buracos abertos

Cadáveres sem nomes, desaparecidos concretos

É para não esquecer

A dor da mãe que não viu o filho morrer

Sequer pode olhar o corpo para saber

O tipo de morte que tirou a chance de seu filho viver

É para não esquecer

Que não se constrói uma nação quando se quer esconder

Os desmandos e a absurda tirania de um poder

Que através de crimes se faz prevalecer

Não se pode esquecer essa história

Tê-la viva e presente em nossa memória

Fará com que erros passados não se repitam no futuro

E que a liberdade permaneça sempre em lugar seguro

Escrevi pensando nas muitas mulheres mães, irmãs, filhas e parentes que tiveram seus entes queridos desaparecidos na época da ditadura militar do nosso país. Que esse passado assombroso sirva de lição para que tenhamos um futuro sem manchas de crueldade.