Noite de outono
Anoitecer errante sobre os vales camuflados de airosa neblina,
Céu de assombroso negrume azul-petróleo, sobre o monte declina.
Ruidoso passáro noturno, entre os vastos pinheiros verde-oliva,
Plaina repousando de leve, na rama recém brotada mais viva!
Sorteando caem os pingos da chuva e onde ela toca transforma,
E O seco arfar da montanha exala agora o cheiro da terra morna.
As falecidas rosas da primavera que no verão ressequiram ao sol,
Dão lugar ao âmbar que gera a frieza do vento ao soprar no arrebol.
Sem máculas e refém do dia, preso a sua agonia o astro da sublime luz,
Lamenta não vislumbrar a alegoria de encantos que só noite produz.
No avermelhado nascente se ergue, e no ocaso se deita só e silente,
Sequer o acompanha a lua que sob o seu lume vive quiçá, impotente.
Eu, que de privilégio sou farto nas madrugadas em claro, observo atento
E com esse inebriante estímulo a todos os meus desejos eu alimento.
Pela lua, pelas estrelas, pelo céu em silêncio uma promessa eu faço,
De ainda neste outono admirar a noite me aconchegando em teu abraço!