TEATRO DO ABSURDO
No fundo é quase tudo mercadoria
Uma malfadada negociata poética
Envolvendo toda classe de palavras
E gente; ainda mais, e infelizmente,
Sagrada família, amigos, conhecidos...
Cera no ouvido e peroba na cara
É... Labutar, em si, pode ser indecente
E uma grande parte das coisas
Não vale qualquer som elucidativo
A replicar-me os badalos dos ouvidos
Se paro determinado a pensar
Reparo que mora no teatro do absurdo
A graça escancarada deste jogo:
A grande peça encenada, impagável,
Os eternos e crédulos personagens,
Dignos de uma estatueta de Oscar...
É o dissimulado atuar que dá sentido à vida
Jamais o transcorrer de uma vida sem roteiro!
Se tudo fosse irremediavelmente verdadeiro,
Fatídico, como querem que eu acredite
Os leões devoradores e os covardes lobos
Melhor seria já ter nascido velho
E morrido criança má no epicentro do inferno
Olha aí:
Eu a andar ereto, de terno preto...
Quem sabe direito me enxergar
Vê-me nu em pêlo, pela cidade,
A tentar vender minha mediocridade
Ao final de cada dia
Ganho meu bendito pão.
Também é fato que entrego mentiras
Recebendo como paga,
Um equivalente maço de ilusão