A NATUREZA DO AMOR
Injusto é o amor, este sentir,
Que jamais retribui mal,
E, contrariando o protocolo,
Sofre sereno e calado,
Sem nunca esperar salário,
Morrendo em vez do culpado.
Insano é o amor, este sofrer,
Que louco não pensa certo,
Pois ajuda quem não merece,
Que não se esforça e não tenta,
Socorre quem não carece,
E na dor não se impacienta.
Tolo é amor, este sego,
Que não sabe julgar mal,
Confia em gente enganosa,
Arranjando-lhes desculpas,
Perdoa mesmo inimigos
E de condenar não se ocupa.
Sego mesmo é o louco amor,
Que vê beleza em rascunho,
De gente pobre, sem lustro,
E pode amar mesmo monstros
Que a monstros dariam susto,
Além de alumiar as travas.
Quando se viu o amor ofendido?
Quem seu sorriso abrandou,
Esfriando-lhe a paixão
E a espera lhe desesperou,
Tirando-lhe mesmo a fé
E do bem fez desistir?
E quem não tem suas culpas
E ajuda se lhe é devida,
Não fez qualquer inimigo,
Mas beleza que convida,
Tendo a alma tão grandiosa,
Quem amor merece, amigo?
Que bom que amor é amor,
Injusto, sego e sem preço,
Mas sublime qual a flor,
Além de tolo e insano,
Me conforta docemente
Apesar que não mereço,
Como faz com todo mundo,
Dando-se assim, sem dar preço.
Wilson Amaral