Sabor lixívia.
Sabor lixívia.
Nada!
Só niilismos assoberbam os disparatados pensamentos; tonsilas rebeldes procuram oxigênio – fogem da asfixia.
Cavalos bravios, como rios desconexos, corcoveiam sobre este degredado – inútil e desvairado divagar.
Infelizmente não foi ainda criada a fórmula da harmonia instantânea: cada coisa colocada em seu devido lugar.
Oxalá seja este o projeto de nossa era; amores assépticos, beijos descartáveis – no palato um insuportável gosto de lixívia.
Acorda!
Este sofrer é só teu, idiota. Não o queira compartilhar, dividir essa cruz renegada que já não suportas arrastar.
Comporte-se como um cidadão respeitável e não manches as ruas com teu sangue – procures um canto escuro para lamber as tuas mazelas.
Este é o teu legado. Se por acaso achas o fardo pesado, aviso-te: não o poderás largar por aí – um investigativo olhar te acompanha por detrás de cada janela.
Vamos, homem! Pare de resmungar. Tua cota de fel ainda não acabou – amanhã um outro Judas virá cobrar as trinta moedas por te delatar.
E então?
Aprendeste finalmente qual é o teu lugar nesta infernal engrenagem? Ou és daqueles que só entendem a linguagem do chicote?
Se estás bem com Deus terás todas as benesses, mesmo que o prêmio se converta numa noite de estômago contraído e vômitos intermitentes.
Coloque nesta tua cara amarrotada uma máscara de vitória, saia das cordas batendo. Se não tens uma boa história - não pense duas vezes: invente.
Aviso final: não tentes contestar este modo de vida tão bem elaborado – são milhares de anos ensinando como não se vive, como se vai ao matadouro aos magotes.
A globalização criou um paradoxo interessante que os grandes capitalistas ainda não conseguiram resolver: produzem bens e serviços cada vez com custo menor e com menos pessoas empregadas. Cabe perguntar: com os indivíduos sendo cada vez mais descartáveis em seus empregos, essa superprodução será vendida para quem? Como ilustração, na France Telecom, uma empresa francesa de telecomunicações, 25 funcionários deram cabo da própria vida no período de dezoito meses, (entre Fevereiro de 2008 e Outubro de 2009) insatisfeitos com as mudanças ocorridas na gigante francesa. São mártires modernos dessa engrenagem medonha.
Terras de São Paulo, noite da primeira Segunda-Feira de Fevereiro de 2010.
João Bosco