Medo

As vozes que ouço ainda não mudaram a essência do ter

Não aprenderam a se metamorfosear de forma correta

Ou desistiram de tudo que lembrasse, mesmo que de forma remota

A velha história do ser ou não ser

Não compartilho os segredos de minha alma

Nem tento mostrá-la e divulgá-la de forma bela

É somente no ater-me ao material, ao procurar por uma janela

Que enxergo mais fundo, além do porão, a escuridão que a acalma

Disse uma vez a certo alguém

Não sinto medo nunca senti

Mesmo tendo medo de falar

E medo de sorrir

E ao vê-lo agarrado aos meus pés

Tentei negar abrigo e expulsá-lo do convés

Foi inútil, esforço em vão

Deitou-se na proa do navio da minha vida

Ainda ousou me estender uma mão

Ignorar tentei, mas me vi cair com a palma estendida

Não a toquei

Talvez fosse por medo

Pois mesmo pequeno e mesmo ínfimo ele sempre existe

Tive medo de te dizer, tive medo de ser feliz

Medo de chorar, me divertir e do prazer de rir

Tive medo de implorar e de dizer-te a desejo aqui

Medo de conversar, de passear para poder te ouvir

Medo de cantar mais alto, viajar de avião

Tive medo de chupa cabra, menina veneno e mulher que repetia não

Medo de parecer o mais forte, de ser o mais fraco e lutar por vinténs

Tive medo de dizer o que sinto e que agora repito, me sinto ninguém

Vi homens que olhavam sobre ombros de gigantes

E para enxergar mais longe um monte fui escalar

O medo perdeu, parti e subi, perdi a razão

Mas no topo frio meu corpo congelou

Meus olhos se endureceram e meu coração resfriou

O barco seguiu o seu rumo, a vida mudou

E tempo passou

Pelo medo que tive meus sonhos perdi

Tenho medo de tudo e a tudo esbravejo

Que por mais que anseio e entre contas me vejo

O resultado não vem

Está tudo acabado agora

Alexandre Bernardo
Enviado por Alexandre Bernardo em 28/01/2010
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