Medo
As vozes que ouço ainda não mudaram a essência do ter
Não aprenderam a se metamorfosear de forma correta
Ou desistiram de tudo que lembrasse, mesmo que de forma remota
A velha história do ser ou não ser
Não compartilho os segredos de minha alma
Nem tento mostrá-la e divulgá-la de forma bela
É somente no ater-me ao material, ao procurar por uma janela
Que enxergo mais fundo, além do porão, a escuridão que a acalma
Disse uma vez a certo alguém
Não sinto medo nunca senti
Mesmo tendo medo de falar
E medo de sorrir
E ao vê-lo agarrado aos meus pés
Tentei negar abrigo e expulsá-lo do convés
Foi inútil, esforço em vão
Deitou-se na proa do navio da minha vida
Ainda ousou me estender uma mão
Ignorar tentei, mas me vi cair com a palma estendida
Não a toquei
Talvez fosse por medo
Pois mesmo pequeno e mesmo ínfimo ele sempre existe
Tive medo de te dizer, tive medo de ser feliz
Medo de chorar, me divertir e do prazer de rir
Tive medo de implorar e de dizer-te a desejo aqui
Medo de conversar, de passear para poder te ouvir
Medo de cantar mais alto, viajar de avião
Tive medo de chupa cabra, menina veneno e mulher que repetia não
Medo de parecer o mais forte, de ser o mais fraco e lutar por vinténs
Tive medo de dizer o que sinto e que agora repito, me sinto ninguém
Vi homens que olhavam sobre ombros de gigantes
E para enxergar mais longe um monte fui escalar
O medo perdeu, parti e subi, perdi a razão
Mas no topo frio meu corpo congelou
Meus olhos se endureceram e meu coração resfriou
O barco seguiu o seu rumo, a vida mudou
E tempo passou
Pelo medo que tive meus sonhos perdi
Tenho medo de tudo e a tudo esbravejo
Que por mais que anseio e entre contas me vejo
O resultado não vem
Está tudo acabado agora