RETRATO FALADO
Olhares vigilantes, mesmo que distantes, seguem contemplando meus portões;
E tiram suas conclusões, julgando discernirem meus acessos;
Pecando por mediocridade ou por excessos, tombando nas próprias ilações;
Porque os cálculos estatísticos de suas impressões são múltiplos zeros!
Eu amo de tal modo a clareza que acabo me tornando obscuro;
É tão fácil ver-me que surge um muro, de tão comum redundo em exotismo;
Só não posso ser içado por abismo e nem acreditado por perjúrio;
Porque o meu balaio não é conluio, meu superego não é egocentrismo!
Quem sabe uma lupa lhes ajude a me enxergar;
E o silêncio ensine-os a me escutar, já que me calam noutras vozes;
Prometo dar-me em poucas doses, pra suas neuroses não curar;
E algum oxigênio doar, quando conseguirem decifrar minhas simbioses!
De fato eu sou mistério, posto que me revelo;
Sem dúvida me nego, haja vista minhas concessões;
Quem sabe o maior dentre os fujões, uma vez que me entrego;
Talvez até cego, já que enxergo – provável elo ao qual me sonego nas doações!
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