A Primeira Impressão
No silêncio da noite, máquinas paradas,
a gráfica descansa
de um longo dia de imprimir histórias.
Poesias, crônicas, novelas e memórias,
à espera de serem encadernadas,
conversam enquanto a madrugada avança.
Eu vou fazer sucesso, esnoba uma,
virando as costas ao pobre folhetim
cujo autor, ainda sem ter noção nenhuma,
misturou todo o princípio, meio e fim.
Vou encontrar meus irmãos nas livrarias,
gaba-se a obra do famoso escritor,
ameaçando esgotar-se em poucos dias
pois todos já conhecem o seu valor.
Quieto e pensativo ali no canto
o livro magro, com a capa em preto e branco,
inveja essa certeza de alegrias,
porque o melhor que pode acontecer consigo
é ser dado a um ou outro amigo
de quem sonhando alto o escreveu.
E nesse ambiente escuro e antigo,
paira a possibilidade do perigo
de que, ao lado desse livro, esteja o meu.