A Primeira Impressão

No silêncio da noite, máquinas paradas,

a gráfica descansa

de um longo dia de imprimir histórias.

Poesias, crônicas, novelas e memórias,

à espera de serem encadernadas,

conversam enquanto a madrugada avança.

Eu vou fazer sucesso, esnoba uma,

virando as costas ao pobre folhetim

cujo autor, ainda sem ter noção nenhuma,

misturou todo o princípio, meio e fim.

Vou encontrar meus irmãos nas livrarias,

gaba-se a obra do famoso escritor,

ameaçando esgotar-se em poucos dias

pois todos já conhecem o seu valor.

Quieto e pensativo ali no canto

o livro magro, com a capa em preto e branco,

inveja essa certeza de alegrias,

porque o melhor que pode acontecer consigo

é ser dado a um ou outro amigo

de quem sonhando alto o escreveu.

E nesse ambiente escuro e antigo,

paira a possibilidade do perigo

de que, ao lado desse livro, esteja o meu.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 20/01/2010
Reeditado em 20/01/2010
Código do texto: T2040216