Quimera
Dizes-me que sou louco, por amar assim destemperado;
Por acreditar em quimeras, e com árvores me por a falar.
Que tardia loucura me chegou. (Digo-te eu, sem te contestar)
Tanto tempo algemado na terra dos Homens – tanto tempo vivi do amor divorciado.
Sacrílegas mãos acenam-me ao longe, ao aprisco querem me fazer retornar.
Esquivo-me delas: ovelha obediente e lúcida, decididamente, não mais quero ser.
Deixar-me-ei queimar alegremente nas loucas labaredas da poesia – poesia que os Homens não poderão entender.
Dizes-me louco, bem sei. Santa loucura esta a me impregnar, lanterna de meu caminho - sem a qual não o poderia trilhar.
Hoje pela manhã fiquei prestando atenção ao cantar de um pássaro que ainda não tinha ouvido antes. Um canto que me pareceu estranho, lembrando-me vagamente uma rolinha, só que mais empostado. O canto diferente daquele pássaro me trouxe a lembrança de como tentava ser igual aos meus companheiros, em várias fases de minha vida, na vã tentativa de me adaptar. Aquele pássaro de canto diferente, no meio de tantos outros pássaros, fez-me consciente de quanto é bom sermos apenas nós mesmos.
Cidade dos Sonhos, noite da terceira Segunda-Feira de Janeiro de 2010
João Bosco