Reflexão

Tanto tempo faz,

Que já nem mais me lembro

Da última rima que fiz,

Do último poema lido,

Do último olhar de poeta!

Será que não mais sou poeta?

Perdi meu olhar diferente?

Perdi a arte de me encantar

E de me permitir ser tocado?

Não, não perdi?

Isso não se perde.

Apenas fui relaxado,

Menos cruel,

Desatencioso com meu eu interior

Minha criança interna

Que tanto me contava

E agora não mais a ouso.

Sempre que via o mar

O coração acelerava como se fosse a primeira vez

O sangue, como se fosse um amor

Os olhos, como se fosse o mais belo.

Hoje...

O observo a espreita,

Suas ondas no eterno movimento repetitivo

E me pergunto quem está distante,

Ele ou eu?

A lua cheia era tão graciosa

Tão redonda, sabe, cheia...

Um leve tão amarelo alaranjado, isso aqui na cidade,

Pois na escuridão dos campos

Ela é apenas de um creme bem claro

Tipo sorvete de nata.

Hoje...

Primeiro que nem a vejo,

Prédios, muros, paredes, poeira

E depois,

Corro tanto nessa vida maluca

Que nem mais me lembro de seu olhar discreto la de cima

Como um anjo a me selar.

Lembro-me de todo o encantamento que me tomava

Diante das vivas cores de uma flor

De seu perfume adocicado

Das complexas combinações que a formaram,

Das chuvas, vida,

Do sol, crescimento,

Das formigas, pedras no caminho de Drumonnd.

Hoje...

Olho-as como se fossem apenas criações do mundo moderno,

Sem graça,

Sem vida...

Comecei a ficar preocupado...

O mar distante,

Noites sem lua,

Flores sem graça...

Ou será que eu me distanciei,

Fiz do dia uma noite,

E nas cores pus tons de cinza?

Ouço uma música...

Mas não mais sinto sua melodia.

Vejo uma flor...

Mas não mais sinto teu perfume.

O mar me acolhe em teu ceio...

Mas não mais sinto sua textura.

Tenho de parar...

Acho que estou me tornando humano!

(24/09/2009)

Wagner Gaspar
Enviado por Wagner Gaspar em 18/01/2010
Código do texto: T2037037
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