Mensagem Cifrada
Mensagem Cifrada
Âncoras de vida a prender a vontade de morte intermitente,
Gritos dispersos na madrugada, cânticos náufragos de ciganos
Jardins molhados de Bagdad, viçosas flores, alforria de desenganos
Rios confluentes, sonhos entrelaçados, ponte sobre o Presente.
Noctívago, durmo a ler poetas: encontro inúmeros amigos em questionamento acirrado:
Bebo do vigor de Neruda, do amor e da dor de Ovídio; de Byron me vem grande espanto.
Conheci Thiago de Mello, trafeguei incólume por Bandeira - Florbela me enche de encanto.
Descer o rio com João Cabral é fazer viagem sem vau – ver o espírito do Homem ser dissecado.
Espírito de infante, de usineiro agiota, matadores de cassacos, como se matam nossos sonhos mais caros.
Acordo de manhã com os versos tonantes de Camões na janela - um Bem-te-vi solitário cantando bem perto dela,
Um canto ainda insosso, seu moço, desses cantos de gente triste, cantos de poetas sem Dulcinéia, donzela tão bela.
O dia segue em frente, deixando a poesia prá trás, visão dantesca me arrasta – um pôr-do-sol impossível, cheio de cores, opíparo.
Pêndulo tresloucado oscilando ao sabor das emoções, salva-me a noite chegante, cais instável de minhas reflexões.
Amazonas vadeiam com roucas Medusas, coreografando uma partitura confusa, ballet abstrato de paixões estivais.
Poetas são loucos, doces loucuras praticam; nunca loucuras triviais, dessas loucuras sem marcas, pois poetas são diferentes – poetas amam demais.
Poetas amam sem meias-medidas, pugnam denodadamente por causas perdidas – eis porque amo poetas: não preciso de mais razões.
Quando me sinto acossado, quando o vórtice do rodamoinho me ronda, ameaçando sugar-me em seu negrume pavoroso, busco refúgio no mundo da poesia, bálsamo seguro para as minhas feridas que sangram.
Vale do Paraíba, noite da segunda Sexta-Feira de Janeiro de 2010
João Bosco