Primitivo
Aqui, na Costa Verde Sul Fluminense,
Aprendemos a temer o céu quando se nubla,
O mar quando se turva,
Os pássaros, quando se calam,
Os sinos de vento, quando disparam...
A ventania, quando nos vence!
A região está terrivelmente afetada pela loucura climática,
Fruto, como todos o sabem, da humanidade lunática,
Dura de entender,
Cega de perceber
O que está bem à sua frente,
Gritando de forma incandescente!
No ano passado fez frio em janeiro,
Tivemos a tromba d’água a nove de janeiro.
Todos sabem o que já aconteceu nesse janeiro.
Choveu quase o ano inteiro!
Com o acontecimento em Angra,
Nosso braço solidário sangra!
Agora, quando as nuvens chegam enegrecidas,
Nossas almas quedam-se entristecidas.
Virou uma espécie de alarme interno,
Uma reação física,
Aflita,
Encomendada pelo desequilíbrio externo.
Essa reação soa-me como algo primitivo,
Selvagem,
Indígena, ancestral!
Aprendemos a ler a marítima mensagem,
A interpretar o vento, quando aflitivo,
A passarada, quando debanda,
A natureza, quando visceral,
Decanta!
Não quero que isso soe como uma reclamação:
É uma constatação.
A população foi forçada a desenvolver um tipo de sensibilidade,
Sob a chibata da calamidade!
Também não posso me furtar.
Faço questão de registrar
Que paira sim, sobre a cidade,
Uma egrégora de intranquilidade.