Primitivo

Aqui, na Costa Verde Sul Fluminense,

Aprendemos a temer o céu quando se nubla,

O mar quando se turva,

Os pássaros, quando se calam,

Os sinos de vento, quando disparam...

A ventania, quando nos vence!

A região está terrivelmente afetada pela loucura climática,

Fruto, como todos o sabem, da humanidade lunática,

Dura de entender,

Cega de perceber

O que está bem à sua frente,

Gritando de forma incandescente!

No ano passado fez frio em janeiro,

Tivemos a tromba d’água a nove de janeiro.

Todos sabem o que já aconteceu nesse janeiro.

Choveu quase o ano inteiro!

Com o acontecimento em Angra,

Nosso braço solidário sangra!

Agora, quando as nuvens chegam enegrecidas,

Nossas almas quedam-se entristecidas.

Virou uma espécie de alarme interno,

Uma reação física,

Aflita,

Encomendada pelo desequilíbrio externo.

Essa reação soa-me como algo primitivo,

Selvagem,

Indígena, ancestral!

Aprendemos a ler a marítima mensagem,

A interpretar o vento, quando aflitivo,

A passarada, quando debanda,

A natureza, quando visceral,

Decanta!

Não quero que isso soe como uma reclamação:

É uma constatação.

A população foi forçada a desenvolver um tipo de sensibilidade,

Sob a chibata da calamidade!

Também não posso me furtar.

Faço questão de registrar

Que paira sim, sobre a cidade,

Uma egrégora de intranquilidade.

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 06/01/2010
Código do texto: T2013701